domingo, 5 de agosto de 2007

Angústia: esse mal (bem) existencial

Vivemos em uma sociedade hedonista, o prazer está em voga. Parece que o princípio do prazer defendido por Freud ecoa cada vez mais forte.
Há uma busca incessante em aliviar, ou melhor, em eliminar a angústia. Não é permitido sentir nenhum incômodo, nenhum desprazer. Estar feliz sempre, em todo tempo é a máxima da sociedade pós moderna, neste sentido Frankl (1990:30) nos mostra que “Também a felicidade foge de nós exata e diretamente na medida em que nós pretendemos forçá-la.”
Há uma busca pela felicidade como se ela fosse algo eterno, contínuo. A idéia de não se sentir bem, de fazer uma retrospectiva dos acontecimentos da vida, de encarar as situações de angústia como possibilidade de crescimento, parece totalmente ignorada. A pergunta que me vem é: como eliminar algo que é inerente ao ser humano? Somos seres finitos, limitados, nossa condição nos angustia.
Nossa sociedade tem criado toda uma série de recursos para eliminar a angústia: pílulas, cirurgias plásticas, consumo.
Se uma pessoa não se sente bem, há todo um caminho a percorrer para eliminar a angústia,e, antes de mais nada, a eliminação deve ser rápida e, claro, indolor. Portanto, se o humor não está bom compra-se uma pílula, um antidepressivo e tudo fica ótimo, o mundo ganha novas cores.
Se não se sente bem consigo mesmo, nada melhor do que uma plástica, um banho de loja e não importa qual seja a idade de quem está com ‘baixa estima’.
Se o relacionamento acaba, nada de pensar e refletir, dar um tempo para si, lidar com a perda, basta colocar um ‘novo amor’ no lugar e tudo se resolve, rápido.
A sociedade de consumo, servida pelo marketing, faz de tudo para que a vida pareça fácil e livre de angústias. Faz as pessoas acreditarem que desta forma estão lidando com seus problemas, suas questões existenciais, seus fantasmas, mas tal qual uma panela sob pressão, as questões não resolvidas temem em chiar, pequenos sinais vão aumentando a pressão e aí vemos uma sociedade depressiva, absorvida pelas drogas lícitas ou ilícitas, relacionamentos efêmeros, suicídios.
Mas isto tudo é motivado pela angústia? Perguntam alguns. A angústia existe como condição do ser humano e é impossível viver sem ela, eliminá-la de uma vez por todas. Mas ela pode ser ponto de partida para crescer, para novas perguntas, novas descobertas. Como diz Pegoraro(2000) “As angústias de nossa geração, longe de nos lançar na escuridão, nos convocam a questionar as limitações do cálculo meramente quantitativo e a redescobrir, pela meditação, a qualidade ontológica da vida.”
Depois de crescer internamente, de se descobrir, talvez você até decida por fazer compras, plásticas ou um novo amor; mas consciente de que elas não eliminarão a angústia. Dessa maneira, a angústia deve ser vista como condição humana, uma das poucas situações que faz o ser humano sair de uma atitude passiva e se colocar em ação diante da vida.(Salviati 2003, cita Angerami- Camon,2000) Ao se questionar, refletir sua condição, o ser humano tem a possibilidade de se compreender,de crescer. (Publicado em www.psicoexistencial.com.br,2005)

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